Em 2022, com o lançamento da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, a CID 11, a revisão do estresse por esgotamento profissional torna-se uma doença tipificada e relatada – a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, e são vistas como transtornos de ordem ocupacional. Porém, é importante dizer que, há tempos, já havia relação do trabalho com doenças psiquiátricas, mas, agora, podemos mais facilmente provar e, portanto, tratar tal condição. O esgotamento profissional ocorre desde o início da civilização. Nesse dia 10 de outubro, vamos mais uma vez lembrar o Dia Mundial da Saúde Mental, e é importante que a data não passe em branco.
Segundo dados da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), o problema já atinge cerca de 32% dos 100 milhões de trabalhadores brasileiros, mas certamente esse número deve ser ainda maior e precisa ser levado a sério pelas lideranças e empresas. Sabe-se que, para profissionais autônomos, a necessidade muitas vezes pede por um ritmo mais intenso e acumulado de demandas. Porém, essa condição deveria ser temporária e não um padrão normal que se repete dia após dia. A pandemia também escancarou e agravou esse problema, pois percebemos uma enxurrada de novos esgotamentos: na família, com os filhos, isolamento que aumentou a violência doméstica e divórcios, home school e o home office que se misturaram a vida pessoal e laboral.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) relatou que 59% de seus associados perceberam aumento de até 25% nas consultas no período; enquanto 69,3% atenderam pacientes que já haviam recebido alta e 82,9% perceberam o agravamento dos sintomas em pacientes que ainda estão em tratamento. Horas e horas em frente ao computador, reuniões e mais reuniões, reinvenção de métodos de trabalho que trouxe esgotamento físico e mental. Consequências catastróficas: aumento da ansiedade, da depressão, aumento do consumo de álcool, alterações de sono, queixas cognitivas referentes à piora de memória e atenção e inclusive ideações suicidas. Tanto é que o aumento pela procura de psiquiatras foi gigante.
Porém, do lado oposto, muitos profissionais passaram a sentir o Burnout, ou tédio profissional. A falta de identificação com a profissão ou devido à escassez de atividades traz uma falta de motivação perigosa. Passamos cerca de 1/3 do nosso dia no trabalho, muitas vezes mais que oito horas por dia. Isso significa 33% ou mais do tempo fazendo algo chato, entediante e desgostoso.
Certamente ao longo do tempo trará isolamento, faltas, depressão, ansiedade antes de ir trabalhar e sofrimento psíquico. Em nossa sociedade temos o conceito do trabalho como algo que dignifica, mas e quando não é isso que sentimos? Essa desconexão entre trabalho e sentimento de pertencimento e gratificação pode levar a doenças psiquiátricas.
Burnout ou Boreout percebemos a intrínseca relação entre trabalho e saúde mental
A psicologia organizacional vem tomando proporções muito maiores a de apenas recrutamento e recursos humanos. É urgente olharmos o ser humanos com uma parte laboral importantíssima, significando e colocando limites saudáveis nas relações com o trabalho. Saúde mental é algo complexo. Envolve nossa vida biológica, genes e heranças genéticas. Envolve nossas relações pessoais de família, afetividade, amigos, filhos e chefes. Também tem nossa parte de história, o que já passamos, nossa infância, nossos pais, nosso desenvolvimento. Não podemos esquecer da parte espiritual, a fé, crenças e apoio dessa rede.
Somos feitos de redes sociais, quem são nossos amigos, apoiadores, estressores e redes de apoio. Mas, entre essas e tantas outras coisas, o trabalho é um dos principais fatores. Nem exageros (Burnout) e nem tédio (Boreout). O devido equilíbrio é um dos pilares para uma relação laboral saudável e sem consequências psíquicas negativas. Difícil tarefa.
Nada impossível. Como um diamante é preciso lapidar, tirar arestas e assim ver o brilho de uma relação com o trabalho saudável e gratificante.
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